Sanfoneiro Manoel Juscelino, símbolo do reisado e da cultura popular do sertão piauiense, morre aos 71 anos
Artista admirado por toda a região, Manoel Juscelino deixou um legado de fé, alegria e amor pelas tradições nordestinas

O sertão piauiense amanheceu entristecido nesta terça-feira, 21 de outubro de 2025, com a notícia do falecimento do sanfoneiro Manoel Juscelino Leal, aos 71 anos. Natural da localidade Morrinhos, zona rural do município de Campo Grande do Piauí, Manoel partiu por volta das 6h da manhã, deixando um legado profundo de amor à música e à cultura popular. O velório acontece em sua própria residência, na comunidade onde nasceu e viveu a maior parte da vida.
Uma vida dedicada à cultura e à tradição
Reconhecido em toda a região como um dos grandes nomes do reisado — manifestação cultural que mistura fé, música e tradição — Manoel Juscelino foi uma figura essencial na preservação das raízes nordestinas nos municípios de Campo Grande, Belém do Piauí e Vila Nova do Piauí.
Sua trajetória começou cedo, ainda na infância, influenciado pelo pai, também sanfoneiro. Autodidata, aprendeu a tocar sanfona sozinho e, aos 13 anos, já animava “farinhadas” e as tradicionais festas de reisado das comunidades rurais. Seu talento e sensibilidade musical encantavam quem o ouvia. Inspirado em nomes como Luiz Gonzaga, o rei do baião, Manoel fez da sanfona sua companheira inseparável, levando alegria a forrós, eventos culturais e celebrações religiosas.
Por sua dedicação e contribuição à cultura popular, recebeu homenagens em eventos nos municípios de Belém do Piauí e Vila Nova do Piauí, sendo reconhecido como um verdadeiro guardião das manifestações sertanejas.
Força e fé diante das dificuldades
Nos últimos anos, Manoel enfrentou graves problemas de saúde causados pela diabetes, doença que o levou a passar por duas amputações — do braço esquerdo e da perna direita — além de se submeter a tratamentos regulares de hemodiálise.
Mesmo com tantas limitações físicas, nunca perdeu o bom humor nem a fé. Costumava recordar, com emoção e orgulho, os tempos em que fazia o povo dançar e sorrir ao som de sua sanfona. Essa força interior e a alegria de viver se tornaram marcas de sua personalidade, inspirando todos que o cercavam.
Família e legado de amor à cultura
Manoel Juscelino era casado com Maria Soledade de Araújo Leal e pai de Solismária de Araújo Leal. Foi descrito por amigos e familiares como um homem simples, carismático e admirado, que conquistava a todos com sua humildade e alegria.
Sua partida representa uma perda irreparável para a cultura popular do Piauí, especialmente para as comunidades do sertão que o tinham como símbolo de resistência e tradição. No entanto, o som de sua sanfona e a lembrança de sua presença alegre permanecerão vivos nas festas, nas memórias e nos versos de quem teve o privilégio de conviver com ele.
Com sua vida dedicada à arte, à fé e ao povo, Manoel Juscelino deixa um exemplo de amor à cultura nordestina e uma herança imaterial que continuará ecoando por gerações.