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Com obras iniciadas, maior usina de hidrogênio verde do mundo coloca Piauí como líder da transição energética

Com R$ 27 bilhões de investimento, usina em Parnaíba terá capacidade para produzir 400 mil toneladas de H₂V e atrair novas indústrias para o estado.

O Piauí se posiciona como protagonista no mercado de economia verde ao iniciar a construção da maior usina de hidrogênio verde do planeta. A obra, executada pela multinacional espanhola Solatio Energia Livre, iniciou há uma semana a supressão vegetal e limpeza de 154 hectares dentro da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) Piauí, em Parnaíba, no litoral do estado. Essa parte corresponde à primeira etapa da obra e deve gerar mais de 2 mil empregos diretos.

Com um investimento inicial de R$ 27 bilhões, o projeto é pioneiro em escala industrial no mundo e consolida o Piauí como um dos territórios mais promissores na cadeia global de combustíveis limpos. A usina produzirá 400 mil toneladas de hidrogênio verde e 2,2 milhões de toneladas de amônia verde por ano em sua capacidade total, atendendo à crescente demanda da Europa e de outros mercados por alternativas energéticas sustentáveis.

A limpeza do terreno deve durar de cinco a sete meses. Tudo é feito seguindo as normas de proteção ambiental e preservação da fauna da região. Em seguida, começarão as obras civis, com a construção de edifícios e instalações elétricas e hidráulicas, culminando com a instalação dos equipamentos. A previsão é que a usina entre em operação no segundo semestre de 2029, mas a capacidade plena será atingida apenas após a conclusão de todas as etapas, prevista para 2031.

Por que o Piauí?

A escolha do Piauí para sediar essa obra histórica tem a ver com dois recursos abundantes no estado para a produção de H2V: abundância de água no subsolo e energia limpa produzida localmente. Aliado a isso, há o compromisso do Governo do Estado em apoiar iniciativas que promovam investimentos nas energias renováveis e a crescente demanda mundial, principalmente da Europa, pelo uso de combustíveis limpos como alternativa aos combustíveis fósseis.

“Não poderia ser em outro lugar, além do Piauí, por sua potencialidade natural: abundância de energia renovável, recursos hídricos e uma política estadual comprometida com a transição energética, sendo o tema uma prioridade do governador do Piauí, Rafael Fonteles”, destaca Júnior Fonseca, diretor de projetos da Solatio.

Ao sair na frente com o investimento, a Solatio torna-se a primeira empresa do mundo a apostar na produção de H2V em larga escala. Todas as demais unidades de produção desse combustível operam em pequena escala.

A CEO da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, destaca a importância da usina do Piauí para o setor. “Um projeto dessa magnitude coloca o estado no cenário internacional como produtor e fornecedor de amônia, metanol e SAF (combustível sustentável de aviação)”, afirma a executiva.

O governador do Piauí, Rafael Fonteles, acompanha passo a passo a trajetória de implementação do projeto. Ele acredita que esse projeto irá transformar a economia do estado e da região, e também gerar um grande impacto muito positivo no planeta. “O que o Piauí está fazendo aqui impacta o mundo. Trata-se de um marco na transição energética global, com geração de empregos, renda e desenvolvimento regional”, afirmou o gestor.

Governador Rafael Fonteles Brazil na Energy Conference (Foto Gabriel Paulino)
Governador Rafael Fonteles Brazil na Energy Conference (Foto Gabriel Paulino)

Desenvolvimento regional, atração de indústrias e geração de empregos

O impacto regional será imediato. A primeira fase da obra deve gerar 2,3 mil empregos diretos até 2031, além de centenas de postos qualificados na operação permanente da planta. Segundo a Solatio, engenheiros, técnicos e especialistas estarão entre os profissionais mais demandados, impulsionando o mercado de serviços em Parnaíba e entorno.

O projeto também deve atrair novas indústrias, como fábricas de fertilizantes, aço verde e manutenção de equipamentos industriais. O vice-presidente da Agência de Atração de Investimentos Estratégicos do Piauí (Investe Piauí), Ricardo Castelo, lembra que 95% dos fertilizantes usados no Brasil são importados e, portanto, a amônia produzida no Piauí será cobiçada. “O Piauí se tornará um mercado estratégico para a instalação de uma indústria de fertilizantes”, explica o gestor.

Ricardo Castelo, vice-presidente da Investe Piauí (Foto divulgação Investe Piauí)
Ricardo Castelo, vice-presidente da Investe Piauí (Foto divulgação Investe Piauí)

Outro setor interessado no hidrogênio verde é o da siderurgia, que pode usar o combustível limpo para fabricar o chamado aço verde — altamente valorizado no mercado europeu. “O Piauí já produz minério de ferro no município de Piripiri. Se uma empresa instalar uma unidade próxima à usina e usar o hidrogênio verde como fonte energética, o aço que sairá de lá será classificado como verde”, diz Álvaro Nolleto, presidente da ZPE Piauí.

Álvaro Nolleto, presidente da ZPE de Parnaíba (Foto divulgação Investe Piauí)
Álvaro Nolleto, presidente da ZPE de Parnaíba (Foto divulgação Investe Piauí)

Alto consumo de energia pela usina impactará na arrecadação de impostos

Para produzir H2V, a usina da Solatio irá consumir 3 GW de energia, o triplo do que todo o Piauí consome – 1 GW. Por si só, essa quantidade impressionante de energia utilizada pela empresa já trará benefícios para o Piauí, por meio de impostos.

Hoje, o Piauí produz 7 vezes mais energia (99% limpa) do que consome, e o excedente vai para o sistema nacional de energia, que distribui para regiões que consomem mais. O imposto (ICMS, por exemplo), fica nos estados que mais consomem. Com esse alto consumo da Solatio, o consumo de 3 GW ficará no Piauí, que, portanto, arrecadará impostos.

Complexo Solar Marangatu, no município de Brasileira
Complexo Solar Marangatu, no município de Brasileira

Obras obedecem a exigências legais ambientais

As obras seguem rigoroso protocolo ambiental. A limpeza do terreno é acompanhada por engenheiros, biólogos, agrônomos e veterinários, que monitoram a fauna e a flora. De acordo com o engenheiro Pablo Aguiar, responsável pela supressão vegetal da área, dentre as medidas adotadas estão o uso de sons para afastar animais antes da movimentação das máquinas, a interrupção imediata das operações em caso de identificação de ninhos ou tocas ativas, a preservação integral de espécies ameaçadas — como a aroeira e a amburana —, além do registro e resgate de todos os animais encontrados.

A recomposição da vegetação e a criação de viveiros são parte do compromisso ambiental da empresa, que atua com todas as licenças ambientais emitidas pelos órgãos competentes. “A empresa também está coletando mudas e preparando viveiros para o remanejamento adequado da vegetação, promovendo a recomposição da flora nativa. Toda a área em intervenção foi isolada, garantindo a segurança da população e prevenindo acidentes”, afirmou o engenheiro.

Um projeto do tamanho do PIB

O investimento da Solatio equivale a aproximadamente um terço do Produto Interno Bruto do Piauí (PIB) do Piauí, estimado em R$ 72,8 bilhões, e é quase dez vezes o PIB do município de Parnaíba, segunda maior cidade do estado. Um movimento econômico sem precedentes na história do estado.

Como é produzido o H2V

O hidrogênio verde (H2V) é produzido por um processo chamado eletrólise da água, usando energia elétrica de fontes renováveis (como solar ou eólica). O processo separa a água (H₂O) em hidrogênio (H₂) e oxigênio (O₂) sem emitir CO₂ — por isso é chamado de “verde”.

Ele é pouco utilizado no mundo porque é caro de produzir, difícil de armazenar e transportar e falta infraestrutura (postos, tubulações etc.). No entanto, o Piauí tem as condições ideais para a produção, como água, acesso à energia renovável abundante e barata, infraestrutura para exportação, por meio do Porto Piauí, além do apoio do Governo do Estado e regulamentação.

Piauí sedia maior conferência internacional sobre energias renováveis

A realização, pelo segundo ano consecutivo, de uma conferência internacional sobre energia limpa no Piauí reforça a importância do estado como protagonista nacional. Na semana passada, Teresina sediou a Brazil Energy Conference 2025. Os maiores especialistas em energia do Brasil estiveram presentes.

O evento reuniu autoridades e representantes do setor produtivo para discutir os caminhos da transição energética no país. Foram mais de 100 palestrantes confirmados e cerca de 5.400 participantes, de forma presencial e remota.

Foto: Italo Nascimento
Foto: Italo Nascimento

Ao fim do evento, foi assinada uma carta Brazil Energy, que será encaminhada à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30. A carta reúne compromissos do estado com a justiça climática, o desenvolvimento sustentável e a aceleração da transição energética no território piauiense e em todo o país.

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